DO MODO DE POR FREIO A LíNGUA
A língua do homem precisa muito de
regra e de freio, porque não há quem
não esteja grandemente inclinado a falar
e discorrer sobre as causas que mais
agradam aos sentidos .
E' devido a uma certa soberba, que, na maioria dos casos, somos levados a
falar muito . Persuadimo-nos, devido a
a este orgulho, de que sabemos muito;
comprazemo-nos nas nossas opiniões e
procuramos que os outros aceitem as nossas, para que tenhamos autoridade
sobre eles, como se todos precisassem
aprender de nós .
Não podemos, com poucas palavras,
falar do mal que provem das muitas
palavras .
A loquacidade é a mãe do desafeto,
é a arma da ignoráncia e da insensatez, a
porta da crítica descaridosa, o veículo
das mentiras e o esfriamento da devoção.
As muitas palavras dão força às paixões
viciosas, e estas, por sua vez, incitam
depois, a língua, a que continue
na sua loquacidade indiscreta .
Com os que não te ouvem de boa vontade,
não sejas longa, para não os molestares
. E faz o mesmo com os que gostam
de te ouvir, para não seres imodesta.
Foge de falar com ardor e voz alta,
porque ambas as causas são odiosas,
pois são indício de presunção e vaidade.
A não ser por necessidade, (e, neste
caso, o mais brevemente possível), não
fales de ti, de teus atos e de teus companheiros
. Se te parece que outros falam
de si mesmos em demasia, esforça-te
por ter bom conceito deles, mas não os imites, mesmo que suas palavras
fossem uma acusação de si mesmos e tivessem por fim a sua humilhação.
Pensa o menos possivel sobre teu
próximo e sobre as causas que a ele pertencem
. E sempre que o faças, seja para
falar bem deles . De boa vontade fala
do amor de Deus, mas com o medo que poder errar, ainda neste assunto. Melhor
é preferires prestar ouvidos, quando
outro fala, guardando tuas palavras no íntimo do teu coração .
Mal cheguem aos teus ouvidos as vozes
de outrem, eleva tua mente ao Senhor. Precisas ouvir para entender e responder,
mas não deixes, por isso, de elevar
teu pensamento até o céu, onde habita o teu Deus, e de pensar na sua grandeza e na imensa vileza tua, aos olhos
do Senhor .
Antes de falar sobre as cousas que
entram em teu coração, pensa primeiro.
Porque muitas causas desejarás, mais tarde,
não as ter exposto .
Advirto-te ainda, que, muitas causas
que pensarás ser bom que as digas, melhor
seria que as deixasses sepultadas
no silêncio . Poderás reconhecê-lo, pensando
sobre isto, depois de passada a ocasião
do raciocínio .
O silêncio, minha filha, é uma grande
fortaleza na batalha espiritual, e garantia
da vitória .
O silêncio é o amigo daquele que desconfia de si mesmo e confia em Deus .
E' um auxílio maravilhoso no exercício
das virtudes, e só com o silêncio podemos
fazer oração contínua .
Para te acostumares a te calar, considera
muitas vezes os danos e perigos
da loquacidade e os grandes benefícios
do silêncio . Toma-te de amor por esta
virtude e, para adquirir-lhe o hábito, cala-te, mesmo quando não ficaria mal
falar, desde que isto não te prejudique,
nem a ti nem aos outros. Ser-te'á util ainda, afastar-te das
conversações . Perderás a companhia dos
homens, mas terás a dos anjos, dos santos
e do próprio Deus .
Finalmente, recorda-te da tarefa (combate) que
tens em mãos. E ao veres quanto ainda
resta fazer, não terás vontade de conversar
em demasia.
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