Orgulho ou Preconceito?
Resposta do Mosteiro da Santa Cruz à Revista VEJA
QUARTA-FEIRA, 15 DE ABRIL DE 2015
POR DOM TOMÁS DE AQUINO
A revista VEJA publicou uma matéria sobre as controvertidas cerimônias realizadas no mosteiro da Santa Cruz (Nova Friburgo – RJ) entre as quais a de maior importância foi a sagração episcopal de Mgr Jean-Michel Faure. Esta sagração feita por Mgr Richard Williamson foi seguida da ordenação sacerdotal do Irmão André Zelaya de León, da Guatemala, monge de nosso mosteiro há mais de vinte anos. Ambas cerimônias foram apresentadas como atos de rebelião. Aliás, o título do artigo é: “Rebelião no altar”, artigo que se termina da seguinte maneira: “O francês Faure, cheio de orgulho, tem até apelido para o racha: La Resistance”. Orgulho mesmo ou preconceito da revista? Eis a questão.
Orgulho se pode tomar em dois sentidos. Ou será o senso da dignidade de sua condição como quando um filho da Santa Igreja se declara, com justo orgulho, católico, apostólico, romano. Ou será um vício, um pecado; pecado de rebelião contra Deus. O pecado de Lúcifer.
Talvez o autor do artigo quisesse deixar ao leitor a escolha, já que o jornalista da VEJA foi bastante cordial conosco, embora o tom geral do artigo indique de preferência o sentido de revolta. Seja como for, a pergunta permanece: orgulho de Mgr Faure, de Mgr Williamson e dos monges de Santa Cruz ou preconceito contra eles? A questão continua não respondida.
Retrocedamos no tempo, pois assim fazendo encontraremos o fio de Ariane que nos tirará do labirinto em que a crise atual da Igreja nos lançou, e nos fornecerá o necessário para responder à pergunta já feita. Retrocedamos até a Reforma protestante e ao declínio do Cristianismo na Europa e no mundo. Declínio contra o qual lutaram vitoriosamente, mas só por um tempo, o Concílio de Trento e os grandes santos da Contra-Reforma. Duas forças se chocaram então e se chocam até hoje. Uma nova religião que põe o homem no centro da civilização e combate a Igreja Católica antes de combater Nosso Senhor Jesus Cristo em pessoa para terminar negando a existência de Deus, com o marxismo, e mesmo corrompendo a eterna noção de Verdade com o Modernismo, condenado por São Pio X.
Dois mundos, dois amores; o amor de Deus levado até o esquecimento de si, e o amor de si mesmo levado até a negação de Deus. Dois mundos, duas forças, duas correntes históricas que se opõem há mais de cinco séculos. Qual das duas é movida pelo orgulho? Eis mais do que uma pista para encontrarmos a resposta à nossa pergunta inicial.
Aprofundemos pois a pista já indicada e entremos na atualidade, ou melhor, na história recente da Igreja. Falemos de Vaticano II. Os Papas do século XIX e do século XX até a morte de Pio XII haviam condenado o Liberalismo Católico dos que queriam a união da Igreja com os princípios da Revolução Francesa. Não só o Liberalismo mas também o Modernismo, o Neomodernismo, o Progressismo e demais erros modernos haviam sido devidamente condenados. A Igreja Católica dizia e dirá sempre “não” a estes erros.
Porém o velho sonho dos mais cruéis inimigos da Igreja realizar-se-ia. Um Concílio consagraria os teólogos modernistas, liberais e progressistas. Este Concílio foi o Concílio Vaticano II. Mas dois Bispos permaneceram fiéis e denunciaram este Concílio. Mas só dois? Não é pouco demais? Para um mundo que preza mais a quantidade do que a Verdade, dois é igual a nada. Mas em questão de doutrina não é o número que conta, e as doutrinas apregoadas pelo Vaticano II já haviam sido condenadas por Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII para citar apenas alguns da longa série de Papas que dista de São Pedro à Pio XII, os quais guardaram o depósito da Fé que lhes havia sido confiado por Deus Ele mesmo.
Porém o velho sonho dos mais cruéis inimigos da Igreja realizar-se-ia. Um Concílio consagraria os teólogos modernistas, liberais e progressistas. Este Concílio foi o Concílio Vaticano II. Mas dois Bispos permaneceram fiéis e denunciaram este Concílio. Mas só dois? Não é pouco demais? Para um mundo que preza mais a quantidade do que a Verdade, dois é igual a nada. Mas em questão de doutrina não é o número que conta, e as doutrinas apregoadas pelo Vaticano II já haviam sido condenadas por Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio XI e Pio XII para citar apenas alguns da longa série de Papas que dista de São Pedro à Pio XII, os quais guardaram o depósito da Fé que lhes havia sido confiado por Deus Ele mesmo.
Mas o que isso tem que ver com a sagração do 19 de março de 2015 em Nova Friburgo? Isto tem tudo que ver com essa sagração, já que Mgr Williamson foi ele mesmo sagrado por estes dois bispos fiéis à Tradição bimilenar da Igreja. Estes dois bispos são Mgr Marcel Lefebvre e Mgr Antônio de Castro Mayer.
Contudo, eles sagraram Mgr Williamson, assim como Mgr Fellay, Mgr Tissier e Mgr de Galarreta, contra a vontade de João Paulo II em junho de 1988? Sim, é verdade. Logo eles são uns rebeldes e uns orgulhosos? Não. A verdade não se deixa encontrar tão facilmente assim. Desobedecer ao Papa pode ser, em casos extremos, um ato de virtude, enquanto que obedecê-lo pode ser, em casos extremos, um pecado. “Quem faz o mal porque lhe ordenaram, não faz ato de obediência, mas de rebelião”, diz São Bernardo.
A rebelião no altar não se deu em Nova Friburgo, no dia 19 de março. Se aprofundarmos a questão veremos que a rebelião no altar se deu não em Friburgo, mas em Roma desde o Concílio até hoje.
Quem duvidar do que afirmamos, que estude os livros que falam da crise atual e lá verão que o próprio Cardeal Ratzinger, futuro Bento XVI, afirma que o Vaticano II foi um “contra-Syllabus”, ou seja, que ele vai o ensinamento do Magistério da Igreja, contra uma doutrina já definida pelos Papas anteriores.
Não! Mgr Faure não falou com orgulho, ou melhor, falou com justo orgulho de defender este Magistério infalível da Igreja contra os erros de Vaticano II. Mas como um Concílio pode ensinar erros? Eis a grande pergunta. Leiam pois as obras de Mgr Marcel Lefebvre. Estudem, aprofundem-se na Fé, pois o mal é grande e a abominação da desolação foi posta no lugar santo. Portanto, a revolta no altar não está no mosteiro da Santa Cruz. A revolta no altar está – é triste repeti-lo – no Vaticano.
Mas quem nos crerá? Orgulho nosso ou preconceito da VEJA? Só estudando. Só rezando. Sem oração e estudo ninguém poderá encontrar a resposta. Ela está ao alcance de quem a procura, mas antes de tudo é preciso procurá-la. O que já dissemos é o suficiente por ora. Agora, caro leitor, lhe cabe a sua parte, caso deseje tirar a limpo se é orgulho nosso ou preconceito da VEJA chamar-nos de rebeldes. Bom trabalho.
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